No dia 06 de janeiro de 2025, o CONRE-3 realizou a cerimônia de posse dos novos conselheiros efetivos e suplentes. Também houve eleição para definição dos membros da diretoria. Na presidência está Tamara Mármore. É a quarta mulher a ocupar o cargo de presidência no CONRE-3. Também está entre as mais jovens. Tem 33 anos.
Nascida em Lins, interior de São Paulo, passou a infância e adolescência em São Sebastião, litoral do estado, até se mudar para a cidade. A partir do Cursinho da Poli Itaquera, viu ser construída sua visão de mundo, conhecendo também a realidade da cidade mais populosa do Brasil e todas as suas consequências. Ela sempre gostou das disciplinas de exatas e, no quarto ano de cursinho popular, vieram outras grandes mudanças.
“O mês era abril, meu aniversário. Recebi uma ligação noturna da administração da Unesp de Presidente Prudente perguntando se eu teria interesse em algum curso dentre as vagas ociosas, o famoso ´telebicho´. Foi uma das lindas surpresas que a vida me presenteou. Passei aquela noite estudando os cursos e campus, afinal, tinha que responder em um prazo extremamente curto, e assim conheci a Estatística, que veio como um alumbramento, ali decidi que passaria a viver há quase 600km da minha família. A aplicação em diversas áreas foi o ponto decisivo. Percebi que a Estatística havia decidido por mim”, diz.
Os anos da graduação foram bem aproveitados. Tamara conta que perguntava de tudo um pouco e, na primeira avaliação, já discutiu com a professora por conta de uma metodologia aplicada de forma diferente da que ela ensinou.
“No primeiro ano, participei da organização de eventos acadêmicos e, nos demais, da EJEST (Empresa Júnior de Estatística) e de congressos científicos com grupos pesquisas. Fui membro da Bateria Universitária (alô, alô, Furiosa!), permeei o lindo projeto que é CPIDES (Centro de Promoção para Inclusão Digital, Escolar e Social), compus o movimento estudantil, o Diretório Acadêmico 3 de Maio, rodamos pelo interior de São Paulo com os CEEUs (Congresso Estudantil da Unesp) no movimento da greve de 2016, a primeira que tive conhecimento na época puxada pelos estudantes e pelas pautas estudantis. Desenvolvi o TCC na área da psicometria, saúde e educação”, conta.
A trajetória profissional foi de desafios e ela não esconde o que passou, pois acredita que as experiências a auxiliaram em seu crescimento. Antes de ser estatista, servia em bares e restaurantes. Foi garçonete, cozinheira, recepcionista de festas e fotógrafa até iniciar na área no Colégio Anglo Prudentino.
Atualmente, Tamara atua na assessoria de economia do Sindipeças-Abipeças, além de ministrar aulas particulares a graduandos, já que a estatística está presente como disciplina de muitos cursos.
No CONRE-3, chegou em 2021 como conselheira eleita e, desde então, tem auxiliado fortemente na valorização da estatística no Brasil. Como presidente, ela reconhece a responsabilidade de estar à frente de uma organização que está completando 60 anos.
“Decidi me registrar no CONRE-3 assim que me formei, porque reconheço a importância do trabalho desenvolvido. Hoje, ser CONRE-3 é uma honra para mim, uma forma que vejo de retribuir a minha formação pública. Sinto como se fosse um dever em razão do direito que tive. Espero zelar por toda construção até aqui, considerando o cenário atual e desenvolver projetos que possam trazer frutos adiante”, afirma.
Quando questionada sobre sua área preferida, Tamara fica em dúvida. “Acredito que o que me fez me apaixonar por Estatística foi exatamente sua aplicação em diversas áreas e confesso que não consigo escolher entre as principais que atuei, psicometria e econometria. A aplicabilidade de ambas surtiu resultados surpreendentes e a valorização da nossa profissão nos espaços que elas foram apresentadas, portanto, fico com as duas e, ainda, gostaria de conhecer novas”, revela.
Propostas para 2025
Sobre as propostas para a gestão de 2025, a presidente afirma que foram feitas em conjunto. “Reconhecemos que apesar da necessidade do mercado de trabalho de contratar estatísticos, não há a quantidade necessária de graduados. Portanto uma área de atuação muito importante para nós é reconhecer o porquê dessa ausência e como transformar essa realidade. Quando atuei no colégio, aprendi que o ensino se desenvolve em dois pilares fundamentais, a linguagem e matemática, e sabemos que há grandes dificuldades no segundo. O ENEM tem sido um assunto em alta neste momento e apesar da queda da média geral de matemática, o curso de Estatística (integral) na USP obteve a maior nota de corte dentre todas as áreas, acima até de medicina, ocupando as primeiras posições junto a outros cursos da tecnologia. Compreendo que estamos em um momento de ascensão da tecnologia e, portanto, o aumento ainda mais do espaço para nossa profissão. Surgirão ótimos frutos desse feito, torço para que colabore para diminuição na taxa de evasão, já que o conhecimento dos alunos que entraram no curso aumentou, talvez a dificuldade diminua. Além disso, queremos aproximar os profissionais de nossa sede com a ocupação através do coworking, cursos e palestras, e buscar outros benefícios”, revela.
Gestão jovem e feminina no CONRE-3
O ano de 2025 será marcado pela gestão feminina. Tamara Mármore está na presidência. Nanda Rosa segue como vice-presidente e Doris Fontes, tesoureira. A movimentação acontece em um período brasileiro que, segundo o IBGE, mulheres ocupam apenas 39% dos cargos de liderança.
Para Tamara, ser mulher em uma área predominantemente masculina não é um problema, mas uma oportunidade.
“Eu adoro ser uma mulher de exatas, mais ainda de Estatística, e é fato que a maioria das pessoas que me conhecem se surpreendem muito com essa informação. O maior desafio com certeza é a falta de credibilidade. Mas com cuidado, tranquilidade, paciência e a Estatística como ferramenta, depois de ganhar essa credibilidade, é difícil perder.
E, para os jovens, Tamara deixa um conselho: “Não desista. Estatística é uma nova linguagem, daquelas com poucas vogais e muitas consoantes. É preciso tempo para ser fluente, persistência. Muitos irão dificultar ainda mais e o ambiente acadêmico pode não ser gentil, mas eles te prepararão para o mercado de trabalho. Ficará muito mais simples e fácil aqui fora por conta disso. Confie!”, finaliza.