Ele descobriu o gosto pelos cálculos ainda no ensino fundamental. “Queria ser professor de matemática”. É assim que o Professor Paulo Canas Rodrigues começa a falar de sua trajetória, que começou em Portugal.
Depois de completar o último ano do ensino médio, mesmo sabendo do curso de Estatística, em 1998, por considerar mais oportunidades profissionais, optou pela Licenciatura (em Portugal, o termo ‘Licenciatura’ significa o mesmo que ‘Bacharelado’ no Brasil) em Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL).
Era um curso de cinco anos. Ao final dos primeiros três seria escolhida uma área de concentração de entre quatro opções: (i) Ensino (o que no Brasil é chamado de licenciatura); (ii) Pesquisa operacional; (iii) Ciências atuárias; e (iv) Estatística.
“Pelo gosto e interesse nas disciplinas da área de estatística ofertadas nos três primeiros anos do curso, optei por escolher a área de concentração de Estatística e foi aí que decidi o que eu queria ser: Estatístico!”, revela.
Paulo Canas Rodrigues foi um aluno dedicado. Terminou a graduação com a segunda melhor média entre todos os alunos naquele ano, 2003, e já deu início ao Mestrado em Estatística no Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa (IST-UTL). Também começou a lecionar na FCT-UNL e no IST-UTL, como professor assistente e monitor, respetivamente. A experiência mostrou que a carreira seria na universidade e na área da estatística.
No ano de 2007, finalizou o mestrado e iniciou o doutorado na mesma instituição, com uma bolsa de quatro anos da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Até terminar o doutorado, em fevereiro de 2012, passou oito meses na Polônia, cinco meses nos Estados Unidos e dois anos e meio na Holanda. Essa exposição a vários grupos de pesquisa e diferentes pontos de vista de assuntos correlacionados ampliou a sua visão sobre o tópico da tese, sobre a estatística de um modo geral e sobre o mundo acadêmico.
“Como em Portugal, naquela altura, as perspectivas de seguir a carreira desejada eram diminutas devido à não abertura de vagas para a área de estatística nas universidades portuguesas, decidi procurar posições em outros países. No final de 2011, fiz um concurso para professor na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e em abril de 2013, assumi como Professor Adjunto do Departamento de Estatística da UFBA”, explica.
Em todo esse tempo, o Professor Paulo segue envolvido ativamente nas comunidades estatísticas nacionais e internacionais. Atualmente, é Presidente da International Society for Business and Industrial Statistics (2023-2025), Presidente-Eleito da International Association for Statistical Computing (2023-2025; serei o Presidente em 2025-2027), Membro do Conselho do International Statistical Institute (2023-2025; 2025-2027), Membro do Representative Council da International Biometric Society, e Membro do Conselho da Associação Brasileira de Estatística. Também foi um dos fundadores e primeiro coordenador do Special Interest Group on Data Science, do International Statistical Institute (2021-2023) e Presidente da Região Brasileira da Associação Internacional de Biometria (2018-2020; 2020-2022).
Entre o final de 2019 e o final de 2022, coordenou a escrita e submissão da proposta APCN (Avaliação de Propostas de Cursos Novos) para a criação de Mestrado e Doutorado em Estatística e Ciência de Dados, que foi submetida pelo Departamento de Estatística da UFBA, para avaliação da CAPES. A aprovação da criação do Mestrado e Doutorado em Estatística e Ciência de Dados da UFBA foi divulgada em agosto de 2023. O início dos programas está previsto para 2024.
Visão atual
A aprovação mostra a importância da Estatística para a sociedade. Para o Professor Paulo, empresas e gestores mais informados têm pleno conhecimento da importância da estatística e dos estatísticos para as suas organizações. No entanto, atualmente, o comum é a procura pelo cientista de dados, não pelo estatístico. Paulo Canas lista uma série de ações para que o mercado perceba mais claramente o peso da estatística dentro da Ciência de Dados.
- Educação, com a organização de palestras, seminários eventos e workshops para educar o mercado de trabalho sobre o papel crucial dos estatísticos na análise de dados e na tomada de decisões informadas;
- Divulgação, com a produção de conteúdo educacional, como blogs, artigos e vídeos, explicando como a estatística é fundamental para a ciência de dados e como os estatísticos contribuem para os insights de negócios, e também com o contato direto com gestores de empresas, além de dar destaque para exemplos de projetos em que a análise estatística teve um impacto significativo nos resultados de negócios;
- Colaboração Interdisciplinar, com a participação em projetos de grande porte e colaboração com colegas de outras áreas do conhecimento para mostrar como a estatística é uma parte integrante do processo de análise de dados e como a expertise estatística pode melhorar a qualidade e a confiabilidade dos resultados da análise de dados;
- Networking, com a participação em conferências e grupos profissionais relacionados à estatística, ciência de dados e outras áreas do conhecimento, além de aumentar a visibilidade na comunidade profissional, contribuindo com discussões e compartilhando conhecimento.
Inspiração
Se você, assim como o Professor Paulo, gosta dos cálculos, a Estatística e a academia podem ser boas opções. O caminho, segundo o professor, é ser uma pessoa focada em seus objetivos.
“Desde o início do meu mestrado tentei entender melhor como funciona a vida acadêmica, o que é um bom currículo e quais os meus objetivos profissionais, sempre com uma análise crítica do meu próprio currículo e carreira, analisando os pontos fortes, avaliando as oportunidades e reduzindo os pontos fracos. Tenho objetivos profissionais bem delineados, sabendo que alguns serão a curto prazo e outros a médio ou longo prazo. Acredito que como cientistas e acadêmicos devemos contribuir para a comunidade científica e para a sociedade de uma forma geral”, finaliza.
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